Milton Nascimento responde a Roger Waters antes de show em Israel: "Meus fãs me trouxeram"

Milton Nascimento está em turnê internacional e se apresentará em Israel (reprodução / instagram @miltonbitucanascimento)
Milton Nascimento está em turnê internacional e se apresentará em Israel (reprodução / instagram @miltonbitucanascimento)

Milton Nascimento respondeu à uma carta de Roger Waters na noite deste sábado (29). O roqueiro pediu para o que brasileiro declinasse um convite para se apresentar em Israel neste domingo.

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Milton publicou a resposta à carta nas suas redes sociais explicando ao cantor quem o levou ao país. “Minha música já me levou para muitos lugares, alguns dos quais eu jamais imaginei. E sou grato por isso. Pouquíssimas vezes declinei de um convite. Afinal de contas, todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo? Já estou em Tel Aviv desde ontem. Fui convidado a cantar aqui por uma empresa gerenciada inteiramente por um brasileiro. Somente com essa informação cai por terra qualquer tipo de argumento de que eu esteja contribuindo com o “apartheid israelense”. Este show NÃO tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense.”

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Lembranças da ditadura

Milton ainda lembrou ao cantor e compositor que não se deteve de cantar nem durante a ditadura militar. “São meus fãs israelenses que me trouxeram até aqui, sendo que, grande parte destes fãs são brasileiros que vivem em Israel. Durante a ditadura militar brasileira eu jamais deixei de tocar no meu país. Então, por que eu deixaria de tocar agora? Por que deixaria de compartilhar experiências de amor e mudança enquanto acontece no Brasil um governo de extrema-direita? Mesmo divergindo das ideias de um governo, jamais abandonarei meu público. Afinal, são as pessoas que importam e que podem transformar. Minha questão, a qual deixo aqui para reflexão de todos: por que um povo deve sofrer retaliação pelos atos políticos de seus governantes? As minorias contrárias devem continuar sem voz? Para mim, repito, o artista deve ir onde o povo está e hoje eu estou aqui para celebrar a paz e tudo que nos une. Viva o amor, viva a música!”

Apoio de artistas

Nos comentários, vários artistas apoiaram a decisão de Milton em não deixar de subir ao palco. “Tem gente que NUNCA passou por qualquer problema na pele e se sente capaz de julgar pessoas que passaram por muitos e se posicionaram de cara limpa e coração pulsante”, escreveu Fafá de Belém. “Que coisa linda”, comentou Alexandre Nero. Carolina Kasting lembrou uma das qualidades do artista: “Você é paz.”

Entenda o caso

No último dia 27 Roger enviou uma carta ao movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) para que ela chegasse a Milton, já que sua solicitação feita ao cantor e sua equipe não foram respondidas. “Estou com peso no coração. Eu queria falar com Milton sobre amor, morte e música. Amor por todos os nossos irmãos e irmãs em todo o mundo, independentemente de sua religião, ou etnia, ou nacionalidade, mas particularmente pelos palestinos e palestinas que buscaram artistas em todo o mundo para pedir ajuda, através de sua recusa em lavar a imagem do Estado de apartheid israelense, não se apresentando por lá. Eu queria falar com Milton sobre morte. Eu queria perguntar a ele se ele tem filhos, e como ele se sentiria enterrando um deles após um abate casual perpetrado por um exército de ocupação. Eu queria falar com ele sobre música, e sua profunda obrigação moral como eminente músico de evitar que sua música seja utilizada para lavar o apartheid com arte”, escreveu Waters no documento.